ja é noite , e a rima do operário...insiste.
por sobre o andaime
seu suor lava os defeitos incultos da sua palavra.
ele é o vento que gira o moinho
na pausa heróica da fome.
para ele é preciso a diciplina nos braços
zangar-se do sono e fugir do assédio da dor,
que vem pela fratura da alma.
é preciso traquejo , força...
gana no preparo da causa.
alinhar com pressa suas selas de montaria.
jurar de morte o medo que se avizinha.
o operario dos andaimes
bebe o descanso na trégua da dança.
em goles minúsculos e com a efervescência
dos afogados.
ele bebe o liquido dos aflitos,
esmiuçado nas exigências da barriga.
para ele
tudo é véspera de cimento na parede.
mas ele sabe que seu tempo é breve
e que nossa pele sempre soube dar
lições de despedida.
tem pés e mãos cozidos no cimento.
e uma certeza perpetuada nos ossos:
viver ,
desde a semente,
é ter o cheiro da luta
impregnado no corpo.
(moisés poeta)